















https://drive.google.com/drive/folders/1gjyeKdW_ljuR2gnqa7z_e3IBlnkgVgID







































Frente a uma tendência histórica que parece levar ao inexorável apagamento da subjetividade e de qualquer barreira entre o “natural” e “artificial” em nossos corpos, paisagens e pensamentos, como pode o artista contemporâneo reagir? Uma resposta, bem intencionada mas natimorta, é a rejeição completa e quase ludista da presença da máquina na criação artística, o fazer artístico aqui romantizado como território da introspecção genial, intimidade por excelência purificada da contaminação pelo não-Humano. Seguindo uma linha difusa de diferentes pesquisas que inclui Warhol e sua serigrafia, a música estocástica de Iannis Xenakis, ou ainda o ready-made, mas que se poderia dizer inicia com o azul de cádmio, primeiro pigmento sintético, ou ainda com o uso da camera obscura, uma resposta alternativa é abraçar a artificialidade da técnica e as possibilidades criativas que introduz, negando qualquer diferença essencial entre a cerâmica e o polietileno de alta densidade, ou entre o pincel e um modelo de difusão latente de geração de imagens.
Esta última é a posição de Gpeto em sua pesquisa, que há anos mescla em seu processo criativo a utilização de inteligência artificial, treinada a partir de suas próprias pinturas, para a geração de imagens que viram então referências para novas pinturas, em ciclo de retroalimentação pictórica que admite uma continuidade (ou parceria?) entre máquina e artista. Em ORGANISMO SINTÉTICO, primeira exposição centrada em sua pesquisa escultórica, o artista apresenta obras em que tanto forma e tema reforçam esta mesma tese: agressivos e sedutores, corpos de espuma expansiva de poliuretano mimetizam como sublimes quimeras tentáculos munidos de chifres, serpentes em posição de ataque ou ainda vulcões próximos à erupção. O acabamento resinado brilhante, que ora proporciona às esculturas aspecto mucoso, pulsante e visceral, ora traz nas pinturas aparência vitrificada e asséptica similar ao de telas de televisões ou celulares, evocando repulsa e desejo simultâneos. Na Natureza sintetizada por Gpeto, pinturas e esculturas sangram como fígados e corações, e animais sem alma perambulam livremente pelos campos como pássaros, gazelas ou chimpanzés: o que nos resta é contemplar nossa própria Criação.
Alice Granada